Dividindo as dúvidas e os conhecimentos

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Como não só médicos, mas outros profissionais de saúde estão envolvidos no tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS, formalmente estão sendo convidados a participar das discussões, enviar casos e dúvidas. Para enviar um caso ou uma dúvida, clique no final de um caso, em comentário, mesmo que não seja diretamente relacionado a ele. Será visto pela adminstradora do blog e será publicado. Se não tiver uma identidade das listadas, publique como anônimo.

Ao publicar este blog minha intenção é criar uma rede de médicos que, por meio da discussão de casos clínicos, possam atender ainda melhor seus pacientes. As dúvidas também podem ser transformadas em situações hipotéticas sobre as quais poderemos debater. Todos os interessados são bem vindos.

30/05/10 Alteração nas postagens:
Ao criar o novo nome para o nosso blog, tive que passar todos os comentários do antigo para cá e por vezes errei, colei 2 vezes ou em lugar errado e tive que apagar. É por isso que está aparecendo que algumas postagens foram excluídas por mim. Pior: não consegui copiar os seguidores para este blog.
Desculpa, mas sou uma blogueira iniciante e errante.
Tânia

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terça-feira, 10 de outubro de 2017

Caso 108- Homem, 32 anos, em uso de TDF + 3TC + EFV desde 2014, osteopenia

Caso 108- Homem, 32 anos, em uso de TDF + 3TC + EFV desde 2014, osteopenia

Motivo da discussão:

1- Qual a conduta mais adequada para este paciente?

Paciente de, 32 anos, sabe ser anti HIV+ desde nov 2008.
11/09/14 Genotipagem pré-tratamento
Subtipo B
Inibidores da protease- Mutação 10V
Outros polimorfismos: 17E, 35D, 60E, 63P
ITRN- sem mutações
ITRNN- polimorfismos 101R, 123E, 135T, 166R, 196E, 200I, 245Q

Início de TARV em 16/09/14, com TDF + 3TC + EFV. Nunca falhou. 

04/09/14
Densitometria óssea de fêmur  e coluna lombar – normal

O paciente corre duas vezes por semana e faz musculação 3 a 4 vezes/semana. Toma vitamina D regularmente. Última dosagem e 25(OH) Vit D 50,6 ng/ml.  Já orientado para dieta com 1000 mg de cálcio/dia. 
Não tem disfunção erétil nem diminuição da libido. 

Densitometria atual com osteopenia. 



Você solicitaria troca do esquema ARV? Qual o esquema sugerido? Por que?

OBS: Este é o mesmo paciente do caso 97. Só para saberem como está ótimo, de lá para cá galgou algumas posições no emprego, está no terceiro ano da segunda faculdade, para a qual prestou outro vestibular, ganhou mais de 20 kg. Vocês podem dar uma olhada no caso.

14 comentários:

  1. Primeiro ponto: investigar outras causas de osteopenia/porose não citadas no caso: alcoolismo, tabagismo, Dça tireoidiana, hipogonadismo (mesmo sem queixa, acho que vale fazer o painel hormonal), hipercalciúria idiopática, disfunção renal.

    Segundo ponto: acho que devemos remover todos os fatores de risco, e nesse ínterim, sou favorável à descontinuação do TDF. Uma opção seria pedir o HLA B*5701 e tentar um esquema com ABC/3TC/EFZ. Embora EFZ esteja também implicado na redução dos níveis de Vit.D, este ñ é o caso, já que faz suplementação e tem níveis satisfatórios (e mesmo que quisesse trocar por DTG, não seria autorizado no momento atual). Vale lembrar que esquemas com IP-r também têm sido relacionados à maior perda de massa óssea (ATV > DRV).

    Por fim, quanto à osteopenia, vale rever com o paciente se essa ingesta mínima de Ca na dieta está adequada (1000 a 1200mg/dia) e caso insatisfatória, considerar Cálcio suplementar.

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  2. Marcio:
    Obrigada pelo comentário.
    Aguardamos o resultado do perfil hormonal, embora dificilmente vá dar alterado num rapaz de 32 anos sem nenhuma queixa. Ok para a dieta.
    A substituição do TDF pelo ABC é uma boa consideração desde que HLAB*5701 negativo.

    Agora vamos pensar nuns pontos novos para discussão:
    Este paciente é muito aderente, visto nunca ter falhado desde o início do tratamento e negar ter falhada em tomar sua medicação. Há, pelo menos, 3 estudos em andamento com DTG e lamivudina. Não acham que este paciente seria um bom candidato para este esquema?
    Seria um esquema de fácil adesão, com apemas dois comprimidos e de elevada potência, considerando-se que será plenamente sensível aos dois medicamentos.
    Quanto a liberação do DTG, acho que talvez já estejamos num outro momento, segundo noticiou o MS recentemente. Vou colocar para todos os estudos a que me refiro e uma revisão sobre alterações do metabolismo ósseo e HIV.

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  3. Bone mineral density in people living with HIV: a narrative review of the literature
    M. J. KrugerEmail author and T. A. Nell
    https://aidsrestherapy.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12981-017-0162-y

    Dolutegravir–lamivudine as initial therapy in HIV-1 infected, ARV-naive patients, 48-week results of the PADDLE (Pilot Antiretroviral Design with Dolutegravir LamivudinE) study

    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5515053/pdf/zias-20-1323402.pdf

    PROMISING RESULTS OF DOLUTEGRAVIR + LAMIVUDINE MAINTENANCE IN ANRS 167 LAMIDOL TRIAL
    http://www.croiconference.org/sessions/promising-results-dolutegravir-lamivudine-maintenance-anrs-167-lamidol-trial

    ACTG A5353: A pilot study of dolutegravir (DTG) + lamivudine (3TC) for initial treatment of HIV-1-infected participants with HIV-1 RNA <500,000 copies/ml
    http://www.natap.org/2017/IAS/IAS_50.htm

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  4. Primeiramente, parabéns pela condução do caso, desde o início.
    Pacientes portadores de HIV podem apresentar perda mineral óssea por dois motivos principais: (1) reconstituição imune, que muitas vezes negligenciamos, e (2) uso de antirretrovirais (tenofovir e inibidores de protease), que supervalorizamos, penso eu!
    Uma vez identificada a perda óssea, além das causas secundárias, não devemos nos esquecer da possibilidade de osteomalácia, cuja abordagem muda muito. Por isso, é prudente que se solicite fósforo sérico, fosfatúria de 24 horas, calciúria de 24 horas e dosagem do paratormônio intacto. Havendo qualquer alteração, solicitar a avaliação de um reumatologista.
    Com Z-score menor de -2 DP, uma vez afastada a hipótese de osteomalácia, acredito que seja prudente a introdução de bisfosfonato. Também acho prudente a suplementação de cálcio, para garantir.
    Seguimento problemático no contexto do SUS, porque não temos densitometria óssea para seguimento. É muito complicado avaliar resposta ao tratamento sem MVS (mínima variação significativa).
    E, por fim, a modificação do esquema antirretroviral é desejável.
    A primeira possibilidade é proceder à pesquisa do HLA B*5701. Em vindo negativa, é possível trocar o tenofovir por abacavir, mantendo o efavirenz.
    Outra abordagem seria um esquema poupador de ITRN. Os estudos mais robustos apontam para três possibilidades: associar 3TC a inibidor de protease (estudos GARDEL, SALT e OLE), associar um inibidor de integrase a um inibidor de protease (estudos ACTG A5262, NEAT 001, SPARE) ou associar 3TC a inibidor de integrase (estudo PADLLE).
    Como foi dito, inibidor de protease também está associado a perda óssea. Sabe-se que o nível sérico e, por conseguinte, a toxicidade do tenofovir aumentam quando coadministrado com inibidor de protease e ritonavir. Pode ser que a retirada do tenofovir e manutenção do inibidor de protease resulte em menor perda de massa óssea. Mas o ideal seria evitar inibidor de protease também.
    Portanto, a melhor conduta, a meu ver, seria solicitar 3TC + DTG. Eu mesmo, recentemente, solicitei à Câmara Técnica este mesmo esquema a uma paciente nota dez, cujo único esquema foi 3TC + TDF + ATV-r, que evoluiu com perda óssea grave. O processo ainda não foi aprovado.
    Um abraço a todos!

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  5. Carlos:
    Muito obrigada pela resposta e pelas ótimas colocações. Este paciente não tem hipofosfatemia. Não foi feita fosfatúria. Dificilmente terá PTH alterado com Vit D normal, não acha?

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  6. A vit D normal não exclui hiperparatireoidismo. Malácea é dado de imagem ou biópsia. Dose o PTH, que é muito útil e específico. Quem baixa o PTH é o cálcio e não a Vit D. A Vit D só facilita a entrada de cálcio pelo intestino e a recuperação renal de cálcio. Mas quem "manda"no PTH é o cálcio. Repito: dose o PTH. Faça tb o cálcio sérico e a calciuria de 24h após 2 semanas de dieta com 1000mg de cálcio / dia (alimento sozinho ou alimento + suplemento) para evitar resultados falso-negativos. Coluna alterada (fora do grupo) e femur dentro do grupo indicam "problema" relativamente recente. A coluna é mais ativa e perde ou ganha massa óssea mais rapidamente. O fêmur dentro do normal indica que até os 25 anos ele deve ter tido um pico de massa óssea normal. Suponho que a espoliação tenha iniciado entre 5-10 anos atrás. O caso ilustra como o HIV e seus tratamentos aviltam o esqueleto. Indivíduo ativo, forte e com vit D normal, sem sinais de hipogonadismo, sem calciúria elevada (a excluir). Só pode ter perdido massa óssea com a doença. Recomendo um ano de ALE e nova densitometria logo após. Dose o CTX-1 sérico antes e seis meses depois, para saber se o ALE está funcionando antes mesmo da nova DXA. ALE foi escolhido porque foi um dos poucos BIS estudados neste grupo e com evidência de resultados em homens.
    FELIZ DIA MUNDIAL DE COMBATE À OSTEOPOROSE !!!
    Parabéns pelo Blog Tania. Sou seu fã.

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  7. Pra quem ainda não conhece, nosso showteacher e personal cosultator para assuntos de distúrbios do metabolismo óssea, que eu, literalmente, alugo por pura admiração é, entre outras coisas, Coordenador do serviço de Densitometria Óssea do Hospital Mater Dei - MG. Vice Presidente da SBDens - Sociedade Brasileira de Densitometria Clínica em 2010-2011. Presidente da ABRASSO - Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo 2011-2012. Vice Presidente para a Área de Densitometria Óssea da ABRASSO em 2011-2014. Atual Membro Full Faculty e Presidente do Painel Latino Americano da ISCD - International Society for Clinical Densitometry. Atual Presidente da Comissão Nacional de Especialidades da FEBRASGO para Osteoporose. Atual membro do Conselho Consultivo Regional (RAC) para América Latina da IOF - International Osteoporosis Foundation. Atual Coordenador do OSTEOM - Grupo de Estudos em Ósteo-Metabolismo - MG. Doutor pelo Centro de Pós Graduação - Programa Saúde da Mulher da Fac. de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais em 2013.
    Sendo assim, vamos aproveitar e aprender muito com o que está nos ensinando.
    Aproveito pra dizer a vocês que fiquem de olho nos cursos dele. Eu já fiz dois. Aprendi pouco porque é difícil mesmo, mas vale muito a pena.
    Bruno, muito obrigada pelo comentário.
    Na próxima semana vocês terão todos os resultados dos exames que o faltam.

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  8. Olá Dra Tania
    Ótimo caso. Gostaria de saber qual foi a motivação da realização de uma segunda densitometria óssea nesse paciente? Vcs fazem de rotina em seu serviço? Pergunto isso porque muitos pacientes fazem uso de TDF e o acesso a densitometria óssea é dificil pelo SUS.

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    Respostas
    1. A densitometria foi solicitada porque o paciente está em uso de TDF e este medicamento está fortemente relacionado a alterações do metabolismo ósseo. A inicial foi justamente para servir de exame de base.

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  9. Olá todos:
    Aí vão os resultados dos exames do paciente.
    Testosterona livre: 55,28pg/ml (N-69-215)
    Testosterona biodisponível:129,54 ng/dl
    Índice de Androgênios Livres:23,580 (35-92,6)
    Fração livre (%total)1,357% (1,53 - 2,88%)
    Fração biodisponível (% total) 31,80%(35-63,3%)
    SHBG 59,9% (17,3 - 65,8nmol/l)
    Albumina 4,3g/dl
    Testosterona total 407 (241-827ng/dl)

    CTX- 0,617 ng/ml (homem até 50 anos<0,584 ng/ml)

    PTH 40,6 pg/ml (11,1 a 79,5)

    Ca sérico 8,64 mg/dl (8,3 a 10,6)

    P sérico 3,3 mg/dl (2,4 a 5,1)

    Calciúria de 24 horas- 201,6 mg
    Relação Ca/Creat 0,14
    Vol 24h 2100 ml
    Fosfatúria de 24 h- 1g

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  10. Testosterona livre: 55,28pg/ml (N-69-215) - não valorizo mto a não ser extremos.
    Testosterona biodisponível:129,54 ng/dl (Aqui em Minas o pessoal da Escola n gosta mto de dosagem de Testo nem da livre. Então se não tiver mto gritante a tendência é n valorizar. )
    Índice de Androgênios Livres:23,580 (35-92,6) - (vou estudar mais)
    Fração livre (%total)1,357% (1,53 - 2,88%)
    Fração biodisponível (% total) 31,80%(35-63,3%)
    SHBG 59,9% (17,3 - 65,8nmol/l) - no livro é legal mas na bancada não é. A Clínica é soberana.
    Albumina 4,3g/dl
    Testosterona total 407 (241-827ng/dl) (fiquei repetitivo)

    CTX- 0,617 ng/ml (homem até 50 anos<0,584 ng/ml) = alta remodelaÇão óssea. BISfosfonato nele e monitora função renal regularmente.

    PTH 40,6 pg/ml (11,1 a 79,5) - ótima notícia.
    Ca sérico 8,64 mg/dl (8,3 a 10,6) - pode melhorar
    P sérico 3,3 mg/dl (2,4 a 5,1) - ta ok

    Calciúria de 24 horas- 201,6 mg (normal ate 4mg/kg de peso)
    Relação Ca/Creat 0,14
    Vol 24h 2100 ml (boa amostra)
    Fosfatúria de 24 h- 1g (ok)


    CD: QQER um dos 03 BISFOSFONATOS: ALE 70mg oral semanal / ZOL 5mg IV anual / RIS 35mg semanal ou 150mg anual) - aprovados para homens. Repetir CTX em 6 meses (tem q cair 50%). DXA em 1,5 ano (aumentar a Densidade Mineral Óssea entre 2% e 4%). Vit D e Cálcio o tempo todo e será grande a chance de sucesso. Ganhou massa óssea, foi para osteopenia, pode parar o tratamento. Reavaliação geral do risco após 03 anos de tratamento para ver se necessita tratar mais ou se pode dar um intervalo. Quando chegarmos lá vcs entenderão melhor o valor da combinação DXA e CTX. Abs, Bruno

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  11. Muito obrigada, Bruno.
    Agora o que vou discutir é a troca do esquema ARV porque não me parece que seja o indicado, manter com o mesmo esquema ARV, nem colocar com IP/r que também está relacionado à osteopenia quando está claro que foi o ARV o motivo da alteração óssea.
    Minha sugestão de troca é para DTG + 3TC. O que acham?

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  12. Em tempo: poderia ficar Tb com ABC + 3TC + EFV, caso fosse HLAB5701 negativo o que o deixaria com um esquema com 5 cp ao invés de 3.

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