Dividindo as dúvidas e os conhecimentos

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Como não só médicos, mas outros profissionais de saúde estão envolvidos no tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS, formalmente estão sendo convidados a participar das discussões, enviar casos e dúvidas. Para enviar um caso ou uma dúvida, clique no final de um caso, em comentário, mesmo que não seja diretamente relacionado a ele. Será visto pela adminstradora do blog e será publicado. Se não tiver uma identidade das listadas, publique como anônimo.

Ao publicar este blog minha intenção é criar uma rede de médicos que, por meio da discussão de casos clínicos, possam atender ainda melhor seus pacientes. As dúvidas também podem ser transformadas em situações hipotéticas sobre as quais poderemos debater. Todos os interessados são bem vindos.

30/05/10 Alteração nas postagens:
Ao criar o novo nome para o nosso blog, tive que passar todos os comentários do antigo para cá e por vezes errei, colei 2 vezes ou em lugar errado e tive que apagar. É por isso que está aparecendo que algumas postagens foram excluídas por mim. Pior: não consegui copiar os seguidores para este blog.
Desculpa, mas sou uma blogueira iniciante e errante.
Tânia

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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Caso 101- Homem, 58 anos, blips de carga viral, dispepsia

Homem, 58 anos, é portador de AIDS desde 1995. Nessa época, o paciente teve tuberculose pulmonar. O primeiro esquema antirretroviral foi 3TC + ZDV + EFV, depois trocado por 3TC + TDF + EFV.
Devido à drogadição NA ÉPOCA, teve problemas com adesão, o que levou a falha virológica.
Estando em uso de 3TC + TDF + EFV, foi coletada genotipagem (12/6/2012), que revelou as seguintes mutações:
Transcriptase reversa: M41L, L74I, V75IV, M184V, T215Y, A98G, L100I, K103N, Y181CY, G190AG.
Protease: Nenhuma mutação.
Foi orientado o seguinte esquema: 3TC + TDF + IP/r. O profissional que o assistia na época escolheu como inibidor de protease o atazanavir.
Desde então muito aderente ao tratamento. Mesmo assim, o paciente algumas vezes apresentou carga viral detectável (veja tabela).
Comorbidades: obesidade, doença do refluxo gastroesofágico, doença degenerativa da coluna lombar (osteoartrite e hérnia de disco) e osteopenia importante. A necessidade frequente de antiácidos (devido à DRGE e ao uso frequente de anti-inflamatórios não esteroidais) fez com que eu trocasse duas vezes o inibidor de protease. Não tolerou o lopinavir, nem o Fosamprenavir, devido à diarreia e ao meteorismo. Portanto, atualmente em uso de 3TC + TDF + ATV/r, com a orientação de tomar somente hidróxido de alumínio se necessário, respeitando um intervalo de pelo menos 4 horas antes de tomar os antirretrovirais.

Contagem de linfócitos T-CD4+

HIV-RNA

Observação

27/2/2012

55,548

244

Durante um período ficou sem médico infectologista. Fui assumi-lo em 16/1/2013.

7/3/2013

indetectável

584

9/12/2013

47

611

3/6/2014

83

571

Mudou-se de município. Como não deu certo a mudança, retornou à cidade onde trabalho e retomou o seguimento no dia 14/4/2015.

15/6/2015

indetectável

328


O que você faria?

6 comentários:

  1. Querida Tania,
    A melhor opção para este paciente é darunavir/ritonavir associado ao raltegravir. Devido à osteopenia é doença de refluxo gastroesofágico eu não usaria atazanavir. Como foi intolerante ao lopinavir e ao fosamprenavir só resta o darunavir. Devido à osteopenia eu também retiraria o tenofovir. Então resta fazer darunavir/ritonavir + raltegravir. Regime bem tolerado e seguro.
    Bjs,
    Valdez

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  2. Eu manteria o esquema ARV atual, trataria a obesidade (diminui os sintomas da DRGE), faria Domperidona p/ melhorar o controle do refluxo, além das medidas não farmacológicas para o mesmo fim. Se a carga viral está indetectável no último exame em paciente drogadicto, é porque ele está aderindo. Não acredito que a substituição do IP'r traria um benefício adicional.
    Bj
    Maria Cristina Gama

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  3. Vamos dar uma olhada na genotipagem que o paciente fez em Junho de 2012, em uso de TDF + 3TC + EFV:
    Resistente completa a EFV, NVP, ETV ( Duet >4), RPV
    Resistência completa 3TC, ddI, d4T, AZT ( Stanford)
    Resistência intermediária TDF (Stanford)
    Reversão de resistência possível:
    AZT +3TC
    TDF + 3TC

    Esquema proposto: TDF +3TC + ATV/r


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  4. Tânia, este caso é muito interessante. É um caso em que a genotipagem precisou ser revista devido às comorbidades e não em decorrência de falha virológica.
    Quando analisamos a transcriptase reversa, percebemos certo grau de comprometimento do tenofovir (resistência de nível intermediário, score 30 - Stanford). Duas TAMs: 41L e 215Y. Resistência ampla aos ITRNN, inclusive à etravirina (100I e 181C, com peso 2,5 cada + 98G e 190A, peso 1 cada, totalizando score DUET maior que 4).
    Quanto à protease, estava intacta.
    O esquema foi iniciado com somente 1 droga plenamente ativa (inibidor de protease) em um paciente com carga viral alta. Portanto, o esquema começou problemático.
    Também agora não será mais possível a utilização do tenofovir, devido à osteopenia avançada.
    Essa semi-monoterapia com inibidor de protease poderia ser tolerada, até porque monoterapia com inibidor de protease já vem sendo usada com sucesso em pacientes avirêmicos. O problema é que tem ocorrido blips.
    Foi optado pelo atazanavir como inibidor de protease. Uma escolha sensata, considerando não só a posologia fácil (paciente adicto), mas também menor impacto no metabolismo lipídico em um paciente não tão jovem e obeso.
    Devido às comorbidades (uso frequente de inflamatórios não esteroidais para tratamento da lombalgia e DRGE), foi tentada a troca do inibidor de protease: lopinavir e fosamprenavir, que ele não tolerou, devido à diarreia. Essas trocas com certeza foram motivadas por dispepsia severa, que obrigou ao uso de inibidor de bomba protônica.
    Minha conclusão é que o único inibidor de protease possível para esse paciente é o darunavir. Não acho que este paciente seja disciplinado o suficiente para melhorar a dieta e emagrecer. Além disso, a necessidade de anti-inflamatório irá dificultar o controle da dispepsia sem que se lance mão da ranitidina e do omeprazol, que não combinam com atazanavir.
    Bem, sou também favorável a fortalecer o esquema. A questão da monoterapia com inibidor de protease é incipiente e sinceramente me incomoda. Tenho dois pacientes recebendo monoterapia com inibidor de protease, mas são casos muito selecionados: uma é esquizofrênica e não aceitava engolir os comprimidos. Só aceitou lopinavir suspensão oral. Outra é uma senhora muito idosa, que estava disposta a abandonar a TARC e só continuou porque suspendi tudo e a deixei com LPV/r. Essas duas pacientes estão indo bem. Mas eu não teria a mesma coragem de fazer isso com um paciente mais jovem.
    Então minhas sugestões são: DRV/r + RAL.
    Outra opção seria solicitar genotropismo. Se R5 exclusivo, DRV/r + MVQ ou DRV/r + RAL + MRQ. A terceira opção me agrada porque tudo leva a crer que esse paciente tomou jeito na vida e não deve estar consumindo drogas como antes, porque a carga viral veio indetectável várias vezes e percebemos periodicidade nas coletas de CD4 e HIV-RNA, que demonstram estar ele comparecendo às consultas.
    Um abraço!

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    Respostas
    1. Está suprimido e, na verdade, só tem um blip acima de 50 cópias /ml. Eu o deixaria apenas com DRV/r e RAL. Neste momento DRV 600 12/12 + RTV 100 12/12 + RAL 12/12. Num futuro possível, DRV 800 + RTV 1 x + DTG 1 x.

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  5. Preciso dizer que não acho errado acrescentar o terceiro medicamento, mas acho que segura com dois.
    Novamente digo, como em comentários de casos anteriores que acho ser um viés o número de falhas que ocorreu no ACTG 5262-provavelmente perda de doses de RAL.
    Recomendação de leitura
    http://www.aidsrestherapy.com/content/pdf/1742-6405-10-33.pdf
    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25821204
    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21857490

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