Dividindo as dúvidas e os conhecimentos

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Como não só médicos, mas outros profissionais de saúde estão envolvidos no tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS, formalmente estão sendo convidados a participar das discussões, enviar casos e dúvidas. Para enviar um caso ou uma dúvida, clique no final de um caso, em comentário, mesmo que não seja diretamente relacionado a ele. Será visto pela adminstradora do blog e será publicado. Se não tiver uma identidade das listadas, publique como anônimo.

Ao publicar este blog minha intenção é criar uma rede de médicos que, por meio da discussão de casos clínicos, possam atender ainda melhor seus pacientes. As dúvidas também podem ser transformadas em situações hipotéticas sobre as quais poderemos debater. Todos os interessados são bem vindos.

30/05/10 Alteração nas postagens:
Ao criar o novo nome para o nosso blog, tive que passar todos os comentários do antigo para cá e por vezes errei, colei 2 vezes ou em lugar errado e tive que apagar. É por isso que está aparecendo que algumas postagens foram excluídas por mim. Pior: não consegui copiar os seguidores para este blog.
Desculpa, mas sou uma blogueira iniciante e errante.
Tânia

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domingo, 21 de abril de 2013

Caso 77- feminina, 12 anos, via de infecção pelo HIV não estabelecida


Motivo da discussão:
1- Qual a via mais provável de infecção pelo HIV da menor?
2- Que medidas de investigação poderiam ser tomadas?
3- Discussão do tratamento.

Caso clínico

Gênero feminino, 12 anos, deu entrada em nosso Serviço em julho de 2011, então com 10 anos de idade, para investigação diagnóstica. Apresentava imunossupressão, desnutrição proteica e doença pulmonar grave.

Ficou internada por 45 dias, tendo sido diagnosticado infecção por HIV,  tuberculose pulmonar, candidíase esofageana, desnutrição. Durante a internação, evoluiu com complicações como herpes zoster, insuficiência renal aguda medicamentosa, colecistite acalculosa e sepse de foco abdominal, todos resolvidos durante a internação. Permaneceu por 4 dias na Unidade de Pacientes Graves (fez uso de BIPAP contínuo), por 7 dias na Unidade Intermediária e o restante, na enfermariade DIPe.


Exames de entrada:  CV:>500.000 cp/ml  e CD4: 53 /mm3
Genotipagem pré TARV: ausência de mutações

Iniciados em julho de 2011: AZT + 3TC + EFV  e esquema RIPE

Respondeu satisfatoriamente ao tratamento ARV e ao tratamento da tuberculose pulmonar, recuperando peso e ficando assintomática.
Exames de controle em outubro de 2011: CV: 202 cp/ml e CD4: 497 /mm3
A partir de novembro de 2011, sua mãe passou a referir, em algumas consultas, dificuldade da menor na adesão ao tratamento, mas negava sempre perda de dose dos ARVs.



Exames de controle em Janeiro de 2012: CCV < 50 cp/ml e CD4 408/mm3
Exames de controle em junho de 2012: CV: 1.587 cp/ml  e CD4: 669  /mm3
Exames de controle em dezembro de 2012: CV: 14.749 cp/ml  e CD4: 505  /mm3
Evoluiu sem intercorrências clínicas durante todo o período.

Solicitada genotipagem em janeiro de 2013.

Com o resultado da genotipagem apresentando inúmeras mutações para NRTI e NNRTI, mãe e filha assumiram que a paciente, regularmente, deixava de tomar várias doses, e que inclusive tinha viajado por 7 dias e não tinha tomado nenhuma dose durante este período.

HPP:

·         Vários episódios de pneumonia entre os 2 e 4 anos de idade, sendo necessário internação para fazer antibiótico venoso e suporte com oxigênio (não soube informar quantas vezes foram).

·         Vários episódios de candidíase oral ao longo de toda a infância.

·         Varicela- não soube informar a idade.
·         Internação em hospital público em janeiro de 2011, por pneumonia grave, derrame pericárdico, convulsão hipertônica  quadro que  evoluiu para sepse, ficando internada por 4 meses. Neste momento foi realizada uma transfusão de sangue. Durante esta internação houve suspeita de fibrose cística, HIV e tuberculose pulmonar, inclusive com início de esquema RIPE. O teste do suor ( dosagem de sódio e cloro no suor, pelo método de Gibson e Cooke. ) veio positivo, e assim, resolveram não fazer mais o anti-HIV e suspenderam o esquema RIPE. A paciente foi encaminhada ao nosso hospital para acompanhamento da fibrose cística no setor de Pneumologia, mas ao chegar para a consulta ambulatorial, o quadro era grave e foi pedida vaga na enfermaria de DIPe. Posteriormente, o diagnóstico de fibrose cística foi afastado.

A mãe da paciente tem história de gesta 4 para 2, fez pré-natal mas não foi testada para HIV durante a gestação. A mãe, o pai e a irmã foram testados para HIV e todos tiveram resultado negativo.
A mãe de nega aleitamento cruzado, nega outro episódio de transfusão sanguínea que não o de maio de 2011, nega história de abuso sexual. Relata que a paciente nasceu de cesareana,  na parte da manhã, em uma maternidade particular no subúrbio, e que só foi para o quarto no final do dia. Inicialmente demonstrou desejo em fazer o teste de DNA, mas com o passar do tempo, desinteressou-se.



7 comentários:

  1. Caso muito interessante.
    Enviei para todos um trabalho muito interessante dobre risco de infecção por HIV no Brasil que conclui ser superior aos conseguidos nos EUA e Europa.
    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3257370/
    Eu fiquei curiosa:
    1-Por que não foi feita a genotipagem em junho 2012. Se havia dívida, por que não repetiu em 4 semanas para ver o que estava ocorrendo?
    2- Quais foram as mutações encontradas para que a gente possa discutir também os esquemas de resgate possívies.
    3- Como foi afastado o diagnóstico de fibrose cística?
    4- Este teste anti-HIV da família referido é recente?
    5- Esta menina não morou com outros indivíduos do sexo masculino?

    Há como acessar o prontuário desta internação na qual foi transfundida? Se sim, acho que é por aí que devemos começar a procurar. É obrigatório o registro, no prontuário,da origem de qualquer derivado de sangue. Desta forma dá para saber quem foi o doador e chamar para repetir a sorologia deste.

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  2. Bom dia:
    Acho que já deu para perceber que pode tratar-se de um caso de troca de bebês, mas acho que temos que explorar outras possibilidades. Vamos aproveitar para discutir o resgate da paciente. Aguardo as informações de quem me enviou o caso.

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    Respostas
    1. 1-Não foi pedido genotipagem em junho, porque a mãe relatou dificuldade na tomada da medicação. Assim, optamos por reforçar a adesão e repetir o exame posteriormente.
      2-Mutações da RT: 41L, 44D, 62V, 106M, 138 A, 184V, 190 A, 210W, 215Y, 227L, 230L Mutações da PR: 36I, 71T
      3-Foi feito novo teste do suor, que foi negativo. A desnutrição e a lesão de pele da paciente podem justificar a positividade do exame naquele momento.
      4-A família foi testada em 2011, quando a paciente recebeu o diagnóstico de infecção pelo HIV.
      5-Não há nenhuma história ou evento relacionado a abuso sexual, inclusive a paciente apresentava hímen íntegro quando internou em nosso serviço.
      6-A bolsa de sangue que foi transfundida à paciente foi localizada e rastreada, sendo negativa para HIV.

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  3. Obrigada pela resposta.
    Então, ao que tudo indica, esta criança não é filha biológica da mãe. Troca na maternidade? Se a família não deseja fazer o DNA acho que este assunto fica encerrado neste momento.
    Vamos agora focar no esquema de resgate.
    Então vamos lá:
    TR-
    EFV- Elevado grau de resistência. Stanford score 135
    NVP- Elevado grau de resistência. Stanford score 200
    ETV- Elevado grau de resistência. Stanford score 45. Duet: 4 (138A 1,5 + 230L 2,5)
    Rilpivirina (só a título de conhecimento). Resistência intermediária. Stanford score 45
    3TC- Elevado grau de resistência. Stanford score 85
    ABC- Elevado grau de resistência. Stanford score 80
    AZT- Elevado grau de resistência. Stanford score 105
    d4T- Elevado grau de resistência. Stanford score 105
    ddI- Elevado grau de resistência. Stanford score 75 (Renageno- intermediário)
    TDF- Elevado grau de resistência. Stanford score 55
    AZT + 3TC - intermediário (Renageno) TAM + 184V
    TDF + 3TC - intermediári (Renageno) TAM + 184V
    Na protease: não é limpa, mas não tem nenhuma mutação maior. Eu usaria a de maior barreira genética.
    Poderia fazer RAL + LPV/r ou TPV/r e eu deixaria só o 3TC como NUC,por enquanto, apenas para manter o fitness reduzido.

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  4. Esqueci de comentar que maraviroque ainda não está aprovado para menores de 16 anos e assim não teria sentido fazer teste de tropismo.
    Não usaria T20 porque dispõem de medicamentos que podem compor um esquema com melhor chance de adesão.
    Não sei se ela já consegue ingerir comprimidos o que, para alguns é bem menos inconveniente do que solução oral. Também não sei se seu peso permitiria o uso de formulações em comprimidos, mas se tiver mais de 35 kg já pode usar comprimidos de TPV, RTV, LPV/r,RAL.

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  5. A paciente engole comprimido e tem exatamente 35 kg.

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  6. Notícias do caso:
    O esquema sugerido pelo MRG foi de TDF + 3TC + LPV/r com planejamento de reavaliação em 2 meses e, caso não haja resposta satosfatória, será intensificado com RAL.
    Vamos aguardar a evolução.

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