Motivo da discussão:
1- Qual a via mais
provável de infecção pelo HIV da menor?
2- Que medidas de
investigação poderiam ser tomadas?
3- Discussão do
tratamento.
Caso clínico
Gênero feminino, 12 anos,
deu entrada em nosso Serviço em julho de 2011, então com 10 anos de idade, para
investigação diagnóstica. Apresentava imunossupressão, desnutrição proteica e
doença pulmonar grave.
Ficou internada por 45 dias, tendo sido diagnosticado
infecção por HIV, tuberculose pulmonar, candidíase esofageana,
desnutrição. Durante a internação, evoluiu com complicações como herpes zoster,
insuficiência renal aguda medicamentosa, colecistite acalculosa e sepse de foco
abdominal, todos resolvidos durante a internação. Permaneceu por 4 dias na
Unidade de Pacientes Graves (fez uso de BIPAP contínuo), por 7 dias na Unidade
Intermediária e o restante, na enfermariade DIPe.
Exames de entrada: CV:>500.000 cp/ml e CD4: 53 /mm3
Genotipagem
pré TARV: ausência de mutações
Iniciados em julho de 2011: AZT + 3TC + EFV e
esquema RIPE
Respondeu satisfatoriamente ao tratamento ARV e ao
tratamento da tuberculose pulmonar, recuperando peso e ficando assintomática.
Exames de controle em outubro de 2011: CV:
202 cp/ml e CD4: 497 /mm3
A partir de novembro de 2011, sua mãe passou a
referir, em algumas consultas, dificuldade da menor na adesão ao tratamento,
mas negava sempre perda de dose dos ARVs.
Exames de
controle em Janeiro de 2012: CCV < 50 cp/ml e CD4 408/mm3
Exames de controle em junho de 2012: CV: 1.587 cp/ml e CD4: 669 /mm3
Exames de controle em dezembro de 2012: CV: 14.749 cp/ml e CD4: 505 /mm3
Evoluiu sem intercorrências clínicas durante todo o
período.
Solicitada genotipagem em janeiro de 2013.
Com o resultado da genotipagem apresentando inúmeras
mutações para NRTI e NNRTI, mãe e filha assumiram que a paciente, regularmente,
deixava de tomar várias doses, e que inclusive tinha viajado por 7 dias e não
tinha tomado nenhuma dose durante este período.
HPP:
· Vários episódios de pneumonia entre os
2 e 4 anos de idade, sendo necessário internação para fazer antibiótico venoso
e suporte com oxigênio (não soube informar quantas vezes foram).
· Vários episódios de candidíase oral ao
longo de toda a infância.
· Varicela- não soube informar a idade.
· Internação em hospital público em
janeiro de 2011, por pneumonia grave, derrame pericárdico, convulsão hipertônica
quadro que evoluiu para sepse, ficando internada por 4 meses. Neste
momento foi realizada uma transfusão de sangue. Durante esta internação houve
suspeita de fibrose cística, HIV e tuberculose pulmonar, inclusive com início
de esquema RIPE. O teste do suor ( dosagem de sódio e cloro no suor, pelo método de
Gibson e Cooke. ) veio positivo, e assim, resolveram não fazer
mais o anti-HIV e suspenderam o esquema RIPE. A paciente foi encaminhada ao
nosso hospital para acompanhamento da fibrose cística no setor de Pneumologia,
mas ao chegar para a consulta ambulatorial, o quadro era grave e foi pedida
vaga na enfermaria de DIPe. Posteriormente, o diagnóstico de fibrose cística
foi afastado.
A mãe da paciente tem história de gesta 4 para 2, fez
pré-natal mas não foi testada para HIV durante a gestação. A mãe, o pai e a
irmã foram testados para HIV e todos tiveram resultado negativo.
A mãe de nega aleitamento cruzado, nega outro episódio
de transfusão sanguínea que não o de maio de 2011, nega história de abuso sexual.
Relata que a paciente nasceu de cesareana, na parte da manhã, em uma
maternidade particular no subúrbio, e que só foi para o quarto no final do dia.
Inicialmente demonstrou desejo em fazer o teste de DNA, mas com o passar do
tempo, desinteressou-se.
Caso muito interessante.
ResponderExcluirEnviei para todos um trabalho muito interessante dobre risco de infecção por HIV no Brasil que conclui ser superior aos conseguidos nos EUA e Europa.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3257370/
Eu fiquei curiosa:
1-Por que não foi feita a genotipagem em junho 2012. Se havia dívida, por que não repetiu em 4 semanas para ver o que estava ocorrendo?
2- Quais foram as mutações encontradas para que a gente possa discutir também os esquemas de resgate possívies.
3- Como foi afastado o diagnóstico de fibrose cística?
4- Este teste anti-HIV da família referido é recente?
5- Esta menina não morou com outros indivíduos do sexo masculino?
Há como acessar o prontuário desta internação na qual foi transfundida? Se sim, acho que é por aí que devemos começar a procurar. É obrigatório o registro, no prontuário,da origem de qualquer derivado de sangue. Desta forma dá para saber quem foi o doador e chamar para repetir a sorologia deste.
Bom dia:
ResponderExcluirAcho que já deu para perceber que pode tratar-se de um caso de troca de bebês, mas acho que temos que explorar outras possibilidades. Vamos aproveitar para discutir o resgate da paciente. Aguardo as informações de quem me enviou o caso.
1-Não foi pedido genotipagem em junho, porque a mãe relatou dificuldade na tomada da medicação. Assim, optamos por reforçar a adesão e repetir o exame posteriormente.
Excluir2-Mutações da RT: 41L, 44D, 62V, 106M, 138 A, 184V, 190 A, 210W, 215Y, 227L, 230L Mutações da PR: 36I, 71T
3-Foi feito novo teste do suor, que foi negativo. A desnutrição e a lesão de pele da paciente podem justificar a positividade do exame naquele momento.
4-A família foi testada em 2011, quando a paciente recebeu o diagnóstico de infecção pelo HIV.
5-Não há nenhuma história ou evento relacionado a abuso sexual, inclusive a paciente apresentava hímen íntegro quando internou em nosso serviço.
6-A bolsa de sangue que foi transfundida à paciente foi localizada e rastreada, sendo negativa para HIV.
Obrigada pela resposta.
ResponderExcluirEntão, ao que tudo indica, esta criança não é filha biológica da mãe. Troca na maternidade? Se a família não deseja fazer o DNA acho que este assunto fica encerrado neste momento.
Vamos agora focar no esquema de resgate.
Então vamos lá:
TR-
EFV- Elevado grau de resistência. Stanford score 135
NVP- Elevado grau de resistência. Stanford score 200
ETV- Elevado grau de resistência. Stanford score 45. Duet: 4 (138A 1,5 + 230L 2,5)
Rilpivirina (só a título de conhecimento). Resistência intermediária. Stanford score 45
3TC- Elevado grau de resistência. Stanford score 85
ABC- Elevado grau de resistência. Stanford score 80
AZT- Elevado grau de resistência. Stanford score 105
d4T- Elevado grau de resistência. Stanford score 105
ddI- Elevado grau de resistência. Stanford score 75 (Renageno- intermediário)
TDF- Elevado grau de resistência. Stanford score 55
AZT + 3TC - intermediário (Renageno) TAM + 184V
TDF + 3TC - intermediári (Renageno) TAM + 184V
Na protease: não é limpa, mas não tem nenhuma mutação maior. Eu usaria a de maior barreira genética.
Poderia fazer RAL + LPV/r ou TPV/r e eu deixaria só o 3TC como NUC,por enquanto, apenas para manter o fitness reduzido.
Esqueci de comentar que maraviroque ainda não está aprovado para menores de 16 anos e assim não teria sentido fazer teste de tropismo.
ResponderExcluirNão usaria T20 porque dispõem de medicamentos que podem compor um esquema com melhor chance de adesão.
Não sei se ela já consegue ingerir comprimidos o que, para alguns é bem menos inconveniente do que solução oral. Também não sei se seu peso permitiria o uso de formulações em comprimidos, mas se tiver mais de 35 kg já pode usar comprimidos de TPV, RTV, LPV/r,RAL.
A paciente engole comprimido e tem exatamente 35 kg.
ResponderExcluirNotícias do caso:
ResponderExcluirO esquema sugerido pelo MRG foi de TDF + 3TC + LPV/r com planejamento de reavaliação em 2 meses e, caso não haja resposta satosfatória, será intensificado com RAL.
Vamos aguardar a evolução.