Dividindo as dúvidas e os conhecimentos

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Como não só médicos, mas outros profissionais de saúde estão envolvidos no tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS, formalmente estão sendo convidados a participar das discussões, enviar casos e dúvidas. Para enviar um caso ou uma dúvida, clique no final de um caso, em comentário, mesmo que não seja diretamente relacionado a ele. Será visto pela adminstradora do blog e será publicado. Se não tiver uma identidade das listadas, publique como anônimo.

Ao publicar este blog minha intenção é criar uma rede de médicos que, por meio da discussão de casos clínicos, possam atender ainda melhor seus pacientes. As dúvidas também podem ser transformadas em situações hipotéticas sobre as quais poderemos debater. Todos os interessados são bem vindos.

30/05/10 Alteração nas postagens:
Ao criar o novo nome para o nosso blog, tive que passar todos os comentários do antigo para cá e por vezes errei, colei 2 vezes ou em lugar errado e tive que apagar. É por isso que está aparecendo que algumas postagens foram excluídas por mim. Pior: não consegui copiar os seguidores para este blog.
Desculpa, mas sou uma blogueira iniciante e errante.
Tânia

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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Caso 63_ Homem, elevado perfil de resistência do HIV aos ARV



1.      Momento ideal para resgate
2.       Intensificação
3.       Simplificação

          58 anos; sexo masculino, pardo, natural do Rio (RJ), viúvo, compositor gráfico, 2º grau completo.
          Início acompanhamento em 02/1994 - “gânglios no pescoço”.
          Primeiro anti HIV+ em 04/1992.
          Início AZT e profilaxia 1ária com SMZ+TMP.
          Passado Hepatite B, sífilis (tratada,) Herpes zoster.
          Pai falecido por CA de pulmão; mãe com “reumatismo”; filho falecido por leucemia; filha saudável; esposa falecida de pneumopatia (sem relação com HIV- SIC).
          Tabagista de 1 a 2 maços/dia por 10 anos; etilista de cerveja; passado de uso de cocaína inalatória; relacionamento homossexual há vários anos.
           02/1994 – Exame físico da entrada: linfadenopatia cervical, submandibular, supraclavicular, axilar e inguinal (± 1,5 cm); leucoplasia pilosa oral, eczema seborreico em face.
          PPD – 15 mm (pápula com centro necrótico).
          03/1994 – CD4 – 417 cél/mm3 (16%) .
          06/1994 – CD4 – 511 cél/mm3 (16%) .
          Suspenso AZT e SMZ + TMP.
          TB pulmonar em set/1994 - BAAR negativo e cultura positiva para BK.
          10/1994 – Início RHZ (9 meses).
          12/1994 - reinício TARV
          12/1994 a 06/1996 – ZDV
          06/1996 a 11/1997 – ZDV + DDI
          11/1997 a 03/2001 – ZDV + 3TC + IDV
          03/2001 a 08/2001 – DDI + D4T + EFV
          08/2002 – Sorologia reativa p/ HTLV confirmada.
          08/01 a 01/2004 – DDI + 3TC + IDV + RTV + EFV
          01/2004 – Genotipagem (1a) – Resistência às 3 classes (recusado em protocolo de pesquisa).
          01/2004 a 02/2006 – DDI + 3TC + TDF + LPV/r
          Sem opções de novas drogas para compor esquema.
          02/06 a 08/06 – DDI + TDF + 3TC + LPV/r + SQV
          08/06 a 09/2006 – TDF + 3TC + LPV/r + SQV
          09/2006 – Não autorizada nova Genotipagem.
          09/2006 a 05/2008 – TDF + 3TC + ATV + RTV
          11/2007 – Não conseguiu vaga em protocolo de pesquisa.
          04/2008 – Genotipagem (2a) – Resistência às 3 classes.
          05/08 a 04/2009 – 3TC + DRV + RTV + T20
          CD4 após este esquema foi de 176 cel/mm3 para 530 cél/mm3
          CV após este esquema foi de 28757 cópias/ml para 1907 e depois 400 cópias/ml, mas não atingiu indetectabilidade.
04/2008: Genotipagem: Vírus subtipo B
          ITRN: 41L 67N 69D 74I 118I 184V 208Y 210W 211K 215Y
          ITRNN: 179M 188L
          Outros polimorfismos na TR: 43N 123E 174K 189I 196E 203K 207E 223E 228H 242L 245E
3TC
ABC
AZT
AZT3TC
d4T
ddI
EFV
NVP
TDF
TDF+3TC
R
R
R
R
R
R
R
R
I
I
IP: 10I 13V 20I 33I/M 35D 36I 46L 54V 62V 63P 69Y 71V 73S 74E 82I 84V 89V 90M 93L
Outros polimorfismos na P: 11L 19P 22V/A 37N 70T 85V 91S
ATV
ATV/R
DRV
FPV
FPV/R
IDV
IDV/R
LPV
NFV
RTV
SQV
SQV/R
R
R
I
R
R
R
R
R
R
R
R
R

Fonte: aids.gov.br : Algoritmo brasileiro Interpretação Genotipagem HIV-1 resistenciav5.cgi ( interpretação da época.


Se fosse hoje ......
3TC
ABC
AZT
AZT+3TC
d4T
ddI
EFV
ETV
NVP
TDF
TDF+3TC
R
R
R
R
R
R
R
S
R
R
I
ATV/R
DRV/R
FPV/R
IDV/R
LPV/r
SQV/R
TPV/R

R
R
R
R
R
R
R

Fonte: aids.gov.br : Algoritmo brasileiro Interpretação Genotipagem HIV-1 Algoritmo_versao_12(05-2012)
Ø  04/2009 – Genotipagem (3a) – Resistência a todos os IPs, exceto intermediária ao DRV + RTV. Resistência a todos os ITRN e ITRNN.
Ø  04/2009 – Abandonou T20 (após 1 ano de uso).
Ø  04/2009 – Teste de tropismo – CCR5
Ø  07/2009 – Abandono da TARV.
11/2009 – Surto psicótico (esquizofrenia breve).
Ø  11/2009 a 03/2011 – TDF + 3TC + DRV + RTV
Ø  CD4 após a reintrodução do DRV + RTV  ficou estabilizado em torno de 400 cél/mm3 aguardando a liberação das outras drogas.
Ø  CV após a reintrodução do DRV + RTV  caiu de 140787 para 27890 e depois subiu para 60425 cópias/ml

O que você faria daí em diante?

5 comentários:

  1. Vou aqui comentar por classe.
    Para ITRN está bem ruim. Pelo algoritmo Brasileiro está resistente a todos. Pela Stanford tem um grau de resistência intermediária para TDF, com peso de 55 e, pelo Renageno a combinação TDF+ 3TC também está intermediária. Como sabemos, a 18V hipersusceptibiliza o HIV ao TDF. Deste modo, e pensando que deixar vírus com fitness reduzido vale e que NUC age até quando não deveria agir mais, foi boa a opção de deixar TDF + 3TC.
    ITRNN: neste ponto há uma diferença de interpretação importante. As mutações encontradas são a 188L e a 179M. Pela Renageno a NVP aparece como plenamente sensível. 188L está listada como mutação importante para EFV. A 179M não é levada em conta nem na Renageno nem pela Sranford. Já a Stanford atrinui um pelso de 60 a 188L o que está na faixa de resistência. Consultei o livro do Marcelo Laurido que também considera resistência completa a NVP para os vírus com 188L. Sempre que usamos dois algorítimos para interpretação é melhor considerar o mais rígido. Deste modo, não consideraria a NVP como uma boa droga para compor esquema de resgate neste caso. Já para usar etravirina está bom. A Stanford considera baixo grau de resistência pela presença da 188L (peso 10), mas conforme os estudos DUET o peso é zero.
    Só para lembrar:
    *Escala de Peso Stanford: Susceptible (0 a 9); Low-level (10 a 29); Intermediate (30 a 59); High-level (60+)
    *Escala de Peso DUET: Resposta Máxima (0 a 2,5); Resposta Intermediária (2,5 a 3,5); Resposta Reduzida (>3,5)
    Em conclusão, eu acrescentatia ETV ao esquema deste paciente assim que estivesse disponível.
    IP: Pela versão 12 (05-2012) está intermediário ao DRV está intermediário. Pela Stanford aparece como baixo grau de resistência com peso 10 pela presença da 84Ve 5 pela 89V. Há também diferenças na interprestação da resistência a outros IP- pelo Renageno a resistência é completa a todos os outros IP/r disponíveis. A Stanford considera resistência intermediária ao LPV (peso 55) e ao TPV (peso 45). De qualquer modo, seguindo a regra de considerar o algoritmo mais rígido, consideraria apenas o DRV para o resgate, como foi feito.
    Integrase: paciente virgem de integrase. Sem dúvida incluiria RAL no esquema.
    O paciente, neste momento, tinha vírus R5. Tentaria incluir maraviroque no esquema e aí ficaria com TDF + 3CT + DRV/r + ETV + MRQ + RAL , ou seja- 2 drogas teoricamente plenamente ativas (MRQ e RAL) + a etravirina que está quase 100% e o TDF +3TC que aqui vai como meia droga. Feito isso, se o paciente ficasse em supressão viral por um período de tempo considerável ( mais de 1 ano, pelo menos), eu consideraria retirar o TDF, mesmo que esteja com função renal normal. Seria menos um comprimido/dia. Aliás, gostaria de saber sobre comorbidades como diabetes, hipertensão, dislipidemia e qual o MDRD do paciente.

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  2. Continuando nosso caso...

    03/2011 a 4/2011 – TDF + 3TC + DRV + RTV + RAL + ETV
    4/2011 – adicionado MVQ
    CD4 após a introdução das novas classes sobe de 369 cél/mm3 para 837 em dois meses e atinge 1428 em 1 ano e meio.
    CV após a introdução das novas classes caiu de 60425 cópias/ml para indetectável (< 50 cópias/ml) em dois meses e permanece indetectável após 1 ano e meio.

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  3. Muito interessante este caso. Apenas duas mutações para DRV, nenhuma principal, mas não deu pra segurar com DRV/r e meio TDF. Vem de encontro ao que se preconiza nas principais guias de tratamento, pelo menos 2, idealmente 3 drogas ativas. Como ficou mais de um ano com esquema parcialmente ativo é p´rovável que tenha acumulado mais mutações na protease. Ainda bem que pode se beneficiar de outras drogas.
    Paulo

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  4. Leitura sugerida ( enviei para o grupo por email)

    Buzón M J et al. HIV-1 replication and immune dynamics are affected by raltegravir intensification of HAART-suppressed subjects. Nature medicine 2011;41 (16):460-66. doi:10.1038/nm.2111

    Hardy W D et al. Two-Year Safety and Virologic Efficacy of Maraviroc in Treatment-Experienced Patients With CCR5-Tropic HIV-1 Infection: 96-Week Combined Analysis of MOTIVATE 1 and 2. J Acquir Immune Defic Syndr 2010;55:558–564.

    Katlama C et al. Efficay and Safaety of etravirine at week 96 in treatment - experienced HIV -type-1 infected pateints in the Duet 1 and Duet 2 Trials.
    Antiviral Therapy 2010;15: 1045-1052

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  5. "Acredito que se tivesse entrado darunavir ao mesmo tempo que raltegravir poderia ter obtido resposta plena e sustentada. Agora resta manter tudo e garantir adesão"
    Marcia Rachid

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