Dividindo as dúvidas e os conhecimentos

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Como não só médicos, mas outros profissionais de saúde estão envolvidos no tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS, formalmente estão sendo convidados a participar das discussões, enviar casos e dúvidas. Para enviar um caso ou uma dúvida, clique no final de um caso, em comentário, mesmo que não seja diretamente relacionado a ele. Será visto pela adminstradora do blog e será publicado. Se não tiver uma identidade das listadas, publique como anônimo.

Ao publicar este blog minha intenção é criar uma rede de médicos que, por meio da discussão de casos clínicos, possam atender ainda melhor seus pacientes. As dúvidas também podem ser transformadas em situações hipotéticas sobre as quais poderemos debater. Todos os interessados são bem vindos.

30/05/10 Alteração nas postagens:
Ao criar o novo nome para o nosso blog, tive que passar todos os comentários do antigo para cá e por vezes errei, colei 2 vezes ou em lugar errado e tive que apagar. É por isso que está aparecendo que algumas postagens foram excluídas por mim. Pior: não consegui copiar os seguidores para este blog.
Desculpa, mas sou uma blogueira iniciante e errante.
Tânia

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Caso 28- 56 anos, sexo masculino, diabético, doença coronariana.

Motivo da discussão:

1- Manter ou não os NUCS neste tipo de paciente?Não seria este um ótimo caso para TARV sem NUCS?

2- Substituir o AZT por TDF no esquema devido a toxicidade mitocondrial e cardiotoxicidade do AZT?

Caso:
Paciente masculino, 28 anos, anti HIV + pelo menos desde 1996.

Diabético desde 1995. IAM em 1994. Angioplastia coronariana em 1998.

Início de TARV em 1996

1996- AZT - falha
1997-1999 ddI + d4T + IDV - lipodistrofia
1999 – abril 2009 - AZT + 3TC + EFV- distúrbio metabólico, lipoatrofia periférica .
04/09 – 03/10 AZT + 3TC + ATV/r, este substituído por FPV/r em 07/10 após aparecimento de proteinúria.

O paciente está em acompanhamento com nefrologista, endocrinologista e cardiologista de modo que os especialistas já fizeram as intervenções que consideraram pertinentes.

Atualmente está medicado com Glimeperida 4 mg/dia. Genfibrozila 1200 mg/dia e Metformina 1g/dia + Omega 3+ Cimarizina 75 mg/dia + clopidogrel 75 mg/dia + Diltiazem. + AZT + 3TC + FPV/r.

Exames complementares relevantes:
01/07/10
Creat urina ao acaso 0,076 g/dl
Microalbuminúria 16,6 mg/dl
Alb/creat 218,42 mg albumina/grama creatinina (normal <30 mg)
EAS- D 1020 pH 5,5 Glico ++ Hb ++ 02/08/10
U 33 Creat 0,71
Clearance creat 174,93ml/min
Na 147 K 4,5 P 3,3
Proteinúria de 24 h 500 mg/24h
1500 mg/24h (400 a 1300) Volume total declarado 2000ml
P 75 mg/dl

29/09/10
Hem 3040000 Hb 12,3 Ht 36,2 VGM 119,1 HGM 40,5 CHGM 34 Leuc 4700 0/3/0/0/62/26/9 Plaq 319000
G 153 HbAlc 5,9 Insulina 9,29 U 34 Creat 0,69 MDRD >60 ác úrico 6,7
Col 255 HDL 28 LDL 103 Tg 618
K 4,5 Cl 106 P 3,3
CV HIV <40>
CD4 354- 29% CD8 672- 55% CD4/CD8 0,53

27/03/10
Teste ergométrico
Teste com critérios eletrocardiográficos para isquemia miocárdica desenvolvida ao esforço. Reserva inotropica preservada sem sintomatologia cardiovascular. Déficit cronotrópico com esforço. Atingiu 75,2% da FC máxima. VO2 obtido pela Fórmula de Foster- com apoio das mãos-

27/03/10
Cintilografia miocárdica tomográfica (SPECT) com reconstrução trimensional do miocárdio (3D) Hipocaptação do material radioativo ao nível da (s) parede (S) anterior, apical, antero-septal, infero-septal e inferior após esforço. Na fase de repouso observamos melhora discreta anterior; permanência apical, antero-septal, infero-septal e inferior da hipocaptação. Demais paredes de aspecto normal.

Cintilografia com quantificação polar (Bull' s EYE)
Hipocaptação do material radioativo ao nível do território da coronária descendente anterior e direita após o esforço. Na fase de repouso observamos melhora discreta descendente anterior e permanência em direita da hipocaptação. GATED SPECT Esforço: FE:36% VSF 129 ,l VDF 202 AS: Acinesia septal e movimento assincrônico septo apical. espessamento sistólico: reduzido nas paredes anterior, inferior, apical e septal. repouso: FE: 45% VSF: 107 ml VDF 194ml, AS: acinesia septal e movimento assincrônico septo-apical. Espessamento sistólico: reduzido nas paredes anterior, inferior, apical e septal.

Interpretação: exame sugestivo de hipoperfusão fixa nas regiões apical, antero-septal, infero-septal e inferior; hipoperfusão anterior associado a pequena área de isquemia.

04/10/10
Creat urinária 0,071 g/dL
relação albumina/creat 152,11
Microalbuminuria 10,8 mg/dl
EAS D 1020 pH 6,5 Ptn - traços 11/10/10
Ca urinário 582 mg/24h(100 a 300) ;
Ca urinário 19,4 mg/dl
Vol total declarado 3000 ml
P 1440 mg/24h (400 a 1300)
P urinário - 48 mg/dL
Creat urinária 1950 mg/24h
Creat urinária 65 mg/dl
ác úrico 1260 mg/24h (250 a 750 mg/24h)
Na 420 mEq/24h (40 a 220)
K 105 mEq/24h
Microalbuminúria 9,8 mg/dl /
Albuminuria 294 mg/24h

25/10/10
ácido cítrico citrato: 732 mg/24h (<290 mg/24h)

03/02/11
Creat urinária 0,080 g/dl
Alb/creat 96,25 mg albumina/g creat (N <30)>
Microcalbumina 7,7 mg/dl
EAS- D 1020 pH 7 Ptn - traços ou inferior 15 mg/dl 26/01/11
Hem 2960000 Hb 11,5 Ht 35,8 VGM 120,9 HGM 38,9 CHGM 32,1 Leuc 480 0/2/0/0/51/34/13 plaq 308000
G 119 HBAlc 4,7 U 38 Creat 0,87 ác úrico 6,6
Col 234 HDL 21 LDL 125 Tg 336
CV HIV <40>
CD4 555- 34% CD8 783- 48% CD4/CD8 0,71 .

O médico assistente sugeriu substituição do AZT pelo TDF pelos seguintes motivos:

1. Anemia leve persistente;
2. Os estudos atuais sustentam ser o AZT cardiotóxico por toxicidade mitocondrial;
3. O que tem no rim parece estar relacionado ao diabetes;
4. Tem distúrbio metabólico (diabetes e dispilidemia)
5. Lipoatrófia progressiva.


5 comentários:

  1. Acho que o AZT pode ser substituído pelo TDF e, caso haja piora da função renal, deixar com esquema sem ITRN.
    Fábio

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  2. Comentário de Marcio Fernandes, por partes:
    Parte 1:
    Primeiramente, gostaria de fazer alguns comentários sobre o manejo clínico deste paciente, deixando a questão da TARV para um momento subseqüente:
    1) Não ficou claro para mim o uso de Diltiazem neste caso em particular. Estamos com um paciente jovem, com história de IAM em 1994 e angioplastia em 1998. Tanto o teste ergométrico como as cintilografias mostram ainda sinais de isquemia ao esforço, que melhoram (discretamente) com o repouso, indicando que ainda há tecido viável em sofrimento ao exercício (não seria o caso de uma nova intervenção?). Para piorar, o paciente ainda tem Diabetes Mellitus com controle questionável (glicemia de jejum 152 mg/dl, porém com Hb glicada dentro do alvo – entre 5-6%), que também é responsável por doença vascular e microcirculatória (incluindo rim nesta 2ª categoria). Assim, não entendo o porquê dele usar somente bloqueador de canal de cálcio, como o Diltiazem, que não altera a mortalidade na cardiopatia isquêmica e ainda tem o potencial de interação com o Fosamprenavir/ritonavir, com conseqüente risco de hipotensão e baixa perfusão coronariana/cerebral/renal. Na minha opinião, este paciente deveria estar usando uma associação de drogas que compreendesse pelo menos: a) um inibidor da ECA (ou antagonista de receptor da AII, alternativamente), que tem ação comprovada na redução da mortalidade por IC, na remodelação cardíaca pós-infarto e efeito protetor renal no DM; b) um Nitrato, devido à doença isquêmica obstrutiva e c) Um beta-bloqueador, sendo que a indicação/contraindicação do uso desta última classe deva ser pesado, a meu ver, junto a alguns fatores como a presença de disfunção significativa de condução cardíaca (não há dados de ECG) e controle do DM (o uso de beta-bloqueador pode dificultar o controle do DM). Diltiazem definitivamente não faria parte do arsenal terapêutico deste paciente.

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  3. Comentário de Marcio Fernandes Parte 2
    2) Embora parte dos níveis elevados de Colesterol-T e LDL estejam sendo influenciados pela hipertrigliceridemia, fica claro que o uso de estatina (Atorvastatina ou Rosuvastatina) neste paciente com história de IAM, tanto como tratamento da dislipidemia como de profilaxia secundária pós-infarto seja mandatória. Se eu tivesse que priorizar entre usar Gemfibrozila e uma estatina neste caso, minha escolha seria a estatina, sem sombra de dúvida (até porque esta classe isoladamente também reduz os níveis de TGL em até 20%).
    Agora, quanto à questão da TARV, não acho que trocar AZT por TDF seja uma boa idéia. Temos um paciente que já apresenta proteinúria não nefrótica e albuminúria, possivelmente associada ao DM. Associar TDF neste caso tem grandes chances de evolução para piora da função renal e suas conseqüências. Também não acho que manter o AZT seja uma boa opção, pelos seus efeitos deletérios na toxicidade mitocondrial e suas ‘vertentes’ (lipodistrofia, cardiotoxicidade, dislipidemia, resistência insulínica/DM, anemia etc.). Concordo que deixá-lo com um esquema sem NRTI seja uma ótima alternativa, embora tendesse a manter o 3TC no esquema. Outra coisa que não ficou clara é se o FPV/r é tomado 1x ou 2x/dia. Embora o paciente tenha feito uso prévio de IDV, parece-me que o IP foi substituído por EFZ na ocasião mais por uma questão de toxicidade do que por falha. Neste caso, o FPV/r poderia ser usado 1x/dia, sem problemas, o que contribuiria inclusive para o melhor controle dos triglicerídeos, com a redução da dose do RTV.

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  4. Parte 3
    Em resumo: Minha proposta de TARV seria substituir a terapia para 3TC + FPV/r (1x/dia) + RAL, podendo ou não associar a ETV, para os simpatizantes dos esquemas com 3 drogas ativas. Suspenderia o Diltiazem, substituindo-o por um IECA (ou antagonista de receptor AII) + nitrato + clopidogrel, com ou sem beta-bloqueador (dependendo dos motivos expostos). Trocaria o Gemfibrozila por Atorvastatina ou Rosuvastatina inicialmente, avaliando a posterior indicação cautelosa da associação de estatina + fibrato e manteria o Omega-3. Não mexeria na terapia para o DM (Glimepirida + Metformina). E consideraria junto ao Cardiologista a indicação de nova abordagem nas coronárias deste paciente (CAT + ‘stent’ ou revascularização), caso ainda haja obstrução em vaso(s) de maior(es) calibre(s) e portanto abordáveis.
    Márcio Fernandes.

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  5. Márcio:
    Adoro o cuidado com que faz seus comentários.
    Desculpa pela falta de algumas infrmações:
    1- A dose de FPV é 1400/100.
    2- Ele também usa Enalapril (ao copiar no blog esqueci de colocar).
    3- Não há contraindicação absoluta de uso de FPV e diltiazen. Pode haver aumento dos níveis da última droga e é necessário acompanhamento.
    3- Já foi solicitado ao cardiologista a avaliação de nova abordagem coronariana e vem em acomapanhamento com o nefrologista também.

    Agora eu queria considerar:
    1- Como você, concordo plenamente que o AZT deva ser restirado e que a meu ver, deveria ser substituído por RAL.
    2- Não acho que tenha contra-indicação absoluta para uso de TDF, embora eu preferisse deixá-lo fora do esquema. Não tem nefropatia com caracteristicas de estar relacionada a esta droga. A lesão renal mais comum pelo TDF é uma alteração no transportador Na/Pi nas células do túbulo proximal. O que vai ocorrer é hipofosfatemia por perda urinária de fósforo.

    Sugiro a todos que dêem uma olhada nos comentários que a Patrícia Santiago fez no caso 13 deste blog.
    Bj
    Tânia

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