Dividindo as dúvidas e os conhecimentos

Novidades no blog
Como não só médicos, mas outros profissionais de saúde estão envolvidos no tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS, formalmente estão sendo convidados a participar das discussões, enviar casos e dúvidas. Para enviar um caso ou uma dúvida, clique no final de um caso, em comentário, mesmo que não seja diretamente relacionado a ele. Será visto pela adminstradora do blog e será publicado. Se não tiver uma identidade das listadas, publique como anônimo.

Ao publicar este blog minha intenção é criar uma rede de médicos que, por meio da discussão de casos clínicos, possam atender ainda melhor seus pacientes. As dúvidas também podem ser transformadas em situações hipotéticas sobre as quais poderemos debater. Todos os interessados são bem vindos.

30/05/10 Alteração nas postagens:
Ao criar o novo nome para o nosso blog, tive que passar todos os comentários do antigo para cá e por vezes errei, colei 2 vezes ou em lugar errado e tive que apagar. É por isso que está aparecendo que algumas postagens foram excluídas por mim. Pior: não consegui copiar os seguidores para este blog.
Desculpa, mas sou uma blogueira iniciante e errante.
Tânia

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sábado, 12 de março de 2016

Caso 104- Mulher, 34 anos, síndrome retroviral aguda em noveembro 2015, insuficiência renal aguda em Janeiro 2016.

Motivo da discussão:
Quais as possíveis razões da insuficiência renal desta paciente?
1- IRA pelo HIV? 
2- IRA pelo TDF?
3- IRA por outro agente etiológico infeccioso?

Identificação:
Mulher, 34 anos, branca.

História da Doença Atual:
Paciente previamente hígida, apresentando quadro clínico/epidemiológico compatível com Síndrome Retroviral Aguda no final de novembro/2015 (febre, adenomegalia cervical, cefaleia, náuseas). Realizou teste rápido anti-HIV 1 e 2 em 29.Nov.2015, com resultado reativo, confirmado posteriormente com WB em 30.Nov.2015 (gp160, gp120, gp41, p31,p24).
Iniciou TARV em 07.Dez.2015 com esquema “3 em 1” (TDF/3TC/EFZ), com exames da ocasião (pré-tratamento) mostrando: CD4+ 1.830 cel/mm³ (47%); CD8+ 904 cel/mm³ (23.2%); Carga Viral (RT-PCR) com 2.573.564 cópias/ml (6.41 log). Função renal com Ur 27 e Cr 0.8 mg/dl. Não realizou Genotipagem pré-tratamento. Demais sorologias: HBsAg neg, anti-HBc IgG neg, anti-HBs neg, anti-HCV neg, anti-HAV IgG neg, CMV IgM neg/IgG+, VZV IgM neg/IgG+, HSV 1 e 2 IgG+, EBV IgM neg/IgG+, anti-HTLV 1 e 2 neg, Rubéola IgG+.
Evoluiu nas primeiras 4 semanas de TARV com astenia progressiva, piora das náuseas/hiporexia e sensação de “gosto de amônia na boca”, desenvolvendo quadro de Insuficiência Renal Aguda (Ur 182, Cr 17.3 mg/dl em 06.Jan.2016), necessitando ser hospitalizada para início de terapia dialítica à

Continuando o caso:

à A TARV sofreu alguns ajustes no período:
11.Jan.2016: AZT + 3TC (sol. Oral) + EFZ à doses corrigidas pelo ClCr
21.Jan.2016: Associado RAL ao esquema supracitado, visando a redução mais rápida da CV, posto que o HIV poderia ser o agente causal da IRA apresentada pela paciente. Os exames da ocasião (15.Jan.2016) já mostravam redução satisfatória na CV (5.150 cp/ml – 3.71 log), porém com queda acentuada na contagem de células CD4+ (261/mm³ - 17.5%)
02.Fev.2016 (alta hospitalar): DRV-r + RAL (esquema seguro e potente, sem necessidade de ajuste de dose na Insuf. Renal). Últimos exames de 29.Jan.2016 com CD4+ 291 cel/mm³ (21.1%) e CV 414 cp/ml (2.62 log) à Esquema atual!

à Durante a internação  – 07.Jan a 02.Fev.2016:
- Início em 10.Jan.2016 de lesões micropapulares em tronco, dorso e mmss, algumas esboçando aspecto vesicular e outras confluentes (placas), associadas a picos febris de 38 – 38.5ºC. VDRL negativo. Chegou a receber 1 ou 2 doses de Aciclovir IV, que foi suspenso após o parecer da Dermatologia.  As lesões melhoraram e a febre cedeu após curso de Prednisona 40mg/dia por 5 dias, seguido de corticoterapia tópica.
- Apresentou galactorreia, com exames da internação mostrando TSH 12 mcUi/ml e T4 livre 0.6 à Hipotireoidismo. Não disponho de resultados de anti-TPO e anti-tireoglobulina, embora solicitados durante a hospitalização. A paciente já se encontra em uso de Puran®T4 50mcg/dia e já está em acompanhamento com a Endocrinologia.
- Submetida a biopsia renal sem intercorrências em 18.Jan.2016 









Continuando a dicussão

1-Qual(is) sua(s) hipótese(s) diagnóstica(s) para o quadro cutâneo?

2- que lesão histopatológica espera encontrar?

Continuando o caso - postado em 19/03/2016

O diagnóstico da dermatologista foi de Síndrome de Sweet para o quadro dermatológico.


BX renal         
Quadro histopatológico compatível com nefrite intersticial aguda (NIA)+ lesões túbulo-degenerativas difusas e acentuadas, sugestivas de comprometimento por processo infeccioso de etiologia viral. Imunofluorescência negativa para a presença de imunodepósitos e fatores do complemento; o Estudo Imuno-Histoquímico foi negativo para a presença de Polyomavirus (vírus BK). Após este resultado, optamos pelo reinício da Prednisona 40mg/dia em 22.Jan.2016, que vem em uso até o momento, já em processo de desmame pela Nefrologia.
- A paciente evoluiu com melhora clínica progressiva e sem necessidade de hemodiálise desde 23.Jan.2016. Exames da alta hospitalar com Ur 131 e Cr 2.6 mg/dl. Repetiu exames em 01.Mar.2016, com Ur 57 e Cr 1.14 mg/dl (Cockroft-Gault: 57.08 ml/min; MDRD: 58 ml/min/1.73m²; CKD-EPI: 67 ml/min/1.73m²).

No entanto, a partir de 29.Fev.2016, apresentou tumoração cervical dolorosa bilateral (Esq > Dir), compatível com linfoadenomegalia. A paciente já apresentava um linfonodo +/- 2cm em cadeia cervical à esquerda, próxima ao ângulo da mandíbula, móvel, indolor e de consistência elástica, inicialmente atribuída à ativação ganglionar pela Síndrome Retroviral Aguda. Possui PPD não reator (SIC), realizado em 04.Dez.2015, quando ainda apresentava uma contagem de CD4+ 1.830 cel/mm³ (47%) e não estava em uso de corticoterapia.
Realizou USG cervical com Doppler em 01.Mar.2013, que mostrou linfonodomegalia cervical anterior bilateral, mais evidente à esquerda, de textura discretamente heterogênea (predominantemente hipoecogência), de limites parcialmente definidos e contorno lobulado, com deslocamento das estruturas adjacentes, associado a espessamento e hiperecogenicidade dos tecidos moles adjacentes, que ao Doppler colorido, demonstra discreta vascularização periférica. A possibilidade de linfonodomegalia com degeneração cística/necrótica e associada a processo inflamatório/infeccioso em atividade deve ser considerada. Tireóide, parótida e submandibulares sem alterações. Em comparação com USG cervical prévia realizada em 16.Fev.2016, houve significativo aumento do linfonodo localizado no nível II, à esquerda.

Realizou ainda TC tórax/mediastino + TC abdome e pelve (sem contraste) em 02.Mar.2016, cujos laudos estão pendentes. Programada biópsia ganglionar para o próximo dia 09.Mar.2016, sendo solicitado o envio do material para: Histopatológico, Culturas para micobactérias e fungos, PCR para Mycobcterium tuberculosis e inprint em lâminas para exame direto para fungos e Ziehl-Neelsen.

Veja a continuação do caso nos comentários de 11/04/2016