Dividindo as dúvidas e os conhecimentos

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Como não só médicos, mas outros profissionais de saúde estão envolvidos no tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS, formalmente estão sendo convidados a participar das discussões, enviar casos e dúvidas. Para enviar um caso ou uma dúvida, clique no final de um caso, em comentário, mesmo que não seja diretamente relacionado a ele. Será visto pela adminstradora do blog e será publicado. Se não tiver uma identidade das listadas, publique como anônimo.

Ao publicar este blog minha intenção é criar uma rede de médicos que, por meio da discussão de casos clínicos, possam atender ainda melhor seus pacientes. As dúvidas também podem ser transformadas em situações hipotéticas sobre as quais poderemos debater. Todos os interessados são bem vindos.

30/05/10 Alteração nas postagens:
Ao criar o novo nome para o nosso blog, tive que passar todos os comentários do antigo para cá e por vezes errei, colei 2 vezes ou em lugar errado e tive que apagar. É por isso que está aparecendo que algumas postagens foram excluídas por mim. Pior: não consegui copiar os seguidores para este blog.
Desculpa, mas sou uma blogueira iniciante e errante.
Tânia

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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Caso 80- 37 anos, masculino, falha virológica, elevado perfil de resistência, alergia a 3 esquemas ARV

Motivo da discussão

Paciente com elevado perfil de resistência e história de reação alérgica a três esquemas ARV, além de intolerância a outros.
Como compor um esquema antirretroviral de resgate?
Que medicamento (s) têm mais possibilidade de provocar reação alérgica no paciente?

Paciente 37 anos, com dx de HIV desde 2003.

HPP: Tuberculose ganglionar e coriorretinite por toxoplasmose, mielotoxicidade relacionada à sulfa. 

A história de TARV sempre foi problemática devido a intolerâncias ou reações alérgicas.

AZT+3TC+NFV (intolerância)
3TC+d4T+NFV (intolerância) 
3TC+d4T+EFV (falha virológica)
3TC+AZT+LPV/r (intolerância)
3TC+AZT+FSP/r (alergia grave)
3TC+TDF+EFV (falha virológica)
3TC+TDF+ATV/r (alergia documentada).

Genotipagem de 2010 : (imagem abaixo- algoritmo brasileiro). Para visualizar melhor a imagem, clique em cima que ela se amplia.


Com este laudo foi indicado na época 3TC+TDF+DRV/r
A paciente apresentou novo quadro alérgico importante sendo alterado o esquema para 3TC+TDF+RAL+ETV
A paciente usou este esquema de 2011 a 2013, porém nunca atingiu supressão viral. O CD4 mantem-se entre 500 e 390 celulas/mm3.

Encaminhada ao ambulatório, com CD4 = 390 cels/mm3 e CV = 11905 cópias/ml em uso de 
3TC+TDF+RAL+ETV.
Solicitada nova genotipagem, cujo resultado é: (imagem abaixo- algoritmo brasileiro)



Tropismo para CCR5 = MISTO

Presença de mutações nos códons: G140S|A, Q148H|K|R (RESISTENCIA AO RALTEGRAVIR!!!!).


8 comentários:

  1. Acrescentei a interpretação da Stanford no final do caso.

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  2. Com relação a reação alérgica o que notei foi que, em relação a IP, só quando usou o Kaletra não teve reação alérgica. Pensei então que não seria alergia, mas depois reformulei já que a metodologia do RTV dentro do Kaletra não é igual ao das cápsulas de RTV e, portanto, pode haver algum problema relacionado a esta preparação. Me parece mais lógico do que alergia a FPV, ATV e DRV. Se for isso vamos aumentar esta suspeita se fizer alergia com TPV/r. Não teve reação alérgica quando usou NNRTI e nem a AZT, 3TC, d4T ou TDF, a não ser que o que está descrito como intolerância possa ser, na verdade, uma forma de reação de hipersensibilidade. Quais era o quadro clínico nos episódios de intolerância e de reação alérgica? Veja que o 3TC está presente em todos os esquemas. Já discutimos aqui no blog um caso em que o paciente fazia reações alérgicas a vários esquemas e era ao 3TC.
    Eu ainda não vou comentar sobre o esquema que eu faria para este paciente, mas incluiria TPV/r, com certeza.

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  3. Com relação a reação alérgica o que notei foi que, em relação a IP, só quando usou o Kaletra não teve reação alérgica. Pensei então que não seria alergia, mas depois reformulei já que a metodologia do RTV dentro do Kaletra não é igual ao das cápsulas de RTV e, portanto, pode haver algum problema relacionado a esta preparação. Me parece mais lógico do que alergia a FPV, ATV e DRV. Se for isso vamos aumentar esta suspeita se fizer alergia com TPV/r. Não teve reação alérgica quando usou NNRTI e nem a AZT, 3TC, d4T ou TDF, a não ser que o que está descrito como intolerância possa ser, na verdade, uma forma de reação de hipersensibilidade. Quais era o quadro clínico nos episódios de intolerância e de reação alérgica? Veja que o 3TC está presente em todos os esquemas. Já discutimos aqui no blog um caso em que o paciente fazia reações alérgicas a vários esquemas e era ao 3TC.
    Eu ainda não vou comentar sobre o esquema que eu faria para este paciente, mas incluiria TPV/r, com certeza.

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  4. Reações de hipersensibilidade a medicamentos são 100 vezes mais comuns em infectados pelo HIV do que em não infectados.

    REF: Coopman SA, Johnson RA, Platt R, Stern RS. Cutaneous disease and drug reactions in HIV infection. N Engl J Med 1993; 23:1670-1674

    Fosamprenavir, pode ser associado a rash cutâneo em até 19% dos pacientes em estudos clínicos, entretando menos de 1% precisam interromper o uso do medicamento.

    Ref:Chapman TM, Plosker GL, Perry CM. Fosamprenavir: a review of its use in the management of antiretroviral therapy-naïve patients with HIV infection. Drugs 2004; 64:2101-2124

    Fosamprenavir tem uma estrutura sulfonilarilamina também encontrada no sulfametoxazol e no darunavir. Poderia haver reação cruzada? Gostaria de saber se o paciente já tomou sulfametoxazol e se teve hipersensibilidade.
    No caso do DRV, rah pode estar presente em 7% dos pacientes, mas só é grave em menos de 1%.

    Ref: Clotet B, Bellos N, Molina JM, et al. Efficacy and safety of darunavir-ritonavir at week 48 in treatment-experienced patients with HIV-1 infection in POWER 1 and 2: a pooled subgroup analysis of data from two randomized trials. Lancet 2007; 369:1169-1178

    Há um artigo de revisão que eu mandei para o grupo por email, mas que está acessível em http://www.medscape.com/viewarticle/561019

    Todos os ITRNN são associados a rash e, menos comumente a reações de hipersensibilida graves. O nosso caso usou EFV e ETV sem problemas alérgicos.

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  5. Que tal Dolutegravir por uso compacionado, TPV/r e TDF+3TC? Quanto antes parar o RAL melhor para que não corra risco de acumular mais mutações de resistência.
    Vejam os resultados do SAILING study (Dolutegravir versus raltegravir in antiretroviral-experienced, integrase-inhibitor-naive adults with HIV: week 48 results from the randomised, double-blind, non-inferiority), que tem a participação de diversos pesquisadores brasileiros. Vou mandar para o email do grupo.

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  6. Oi Tania
    Este caso é bem interessante e me intriga desde que assumi a paciente.
    Quando recebi a genotipagem e havia sensibilidade ao DRV tentei utilizá-lo sem mencionar à paciente que ela já havia tomado antes. Com uma semana ela retornou à consulta com eritema polimorfico. Suspendi toda a TARV. Posteriormente recebi o resultado da resistencia ao RAL e ai fiquei muito preocupado, pois dificilmente conseguiria montar um esquema adequado com este padrão de resistencia e com essa história de alergia.
    Bem, o que fiz então... um tropismo, que veio este resultado. Padrão misto! SEm chance para Maraviroque.
    Vc havia me perguntado se a paciente já fizera uso de sulfa e sim, fez uso prolongado, visto que ela teve coriorretinite por toxo quando fez o diagnótico de Sida.
    A paciente retornou nesta quarta-feira e iniciei nova TARV: 3TC + TDF + TPV/r + T20.
    Fiz a primeira aplicação com a paciente e não senti grande dificuldades. Há exatamente 4 semanas consegui fechar o protocolo de Uso Compassivo de Dolutegravir e toda documentação necessário já foi encaminhada para a ANVISA e laboratório. Porém, sem definição para liberação por parte da ANVISA. Bem, agora é esperar... A paciente fará retornos semanais no meu ambulatório que é específico para Multi-experimentados. Concorda com a conduta? Mais alguma sugestão?
    Rodrigo Molina

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  7. Concordo sim. Este é o esquema que eu faria, com olhos bem abertos para a possibilidade de hipersensibilidade. Vê se você consegue saber o que é que descreve como intolerância. Você poderia conversar com um alergista para ver se tem alguma sugestão para o caso.
    Estamos rezando.
    Tânia

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  8. Oi Tania...
    Dando um feedback do caso, a paciente recebeu o Dolutegravir e já está em uso.
    O esquema ficou: 3TC + TDF + TPV/r + DLT.
    Até a chegada do DLT a paciente fez uso de T20, porém apresentou rash cutaneo. Vi o rash e suspendi tudo. Reintroduzi droga a droga com medo de ser o RTV e ficar sem opção, o que deu certo. Fez uso por alguns dias de TPV e depois TPV com RTV e não apresentou qualquer sintoma. Associei em seguida os nucs e por fim o DLT. Está agora com todo o esquema. Assim que tiver a primeira carga viral dou notícias aqui. Muito obrigado.
    Rodrigo Molina

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