Dividindo as dúvidas e os conhecimentos

Novidades no blog
Como não só médicos, mas outros profissionais de saúde estão envolvidos no tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS, formalmente estão sendo convidados a participar das discussões, enviar casos e dúvidas. Para enviar um caso ou uma dúvida, clique no final de um caso, em comentário, mesmo que não seja diretamente relacionado a ele. Será visto pela adminstradora do blog e será publicado. Se não tiver uma identidade das listadas, publique como anônimo.

Ao publicar este blog minha intenção é criar uma rede de médicos que, por meio da discussão de casos clínicos, possam atender ainda melhor seus pacientes. As dúvidas também podem ser transformadas em situações hipotéticas sobre as quais poderemos debater. Todos os interessados são bem vindos.

30/05/10 Alteração nas postagens:
Ao criar o novo nome para o nosso blog, tive que passar todos os comentários do antigo para cá e por vezes errei, colei 2 vezes ou em lugar errado e tive que apagar. É por isso que está aparecendo que algumas postagens foram excluídas por mim. Pior: não consegui copiar os seguidores para este blog.
Desculpa, mas sou uma blogueira iniciante e errante.
Tânia

GRUPO, PODE HAVER UMA INCOMPATIBILIDADE DO BLOGGER COM INTERNET EXPLORER. CASO VOCÊ TENHA PROBLEMA PODE INSTALAR O FIREFOX OU O GOOGLE CHROME. LIMKS PARA INSTALAÇÃO: http://br.mozdev.org/download/ www.google.com/chrome/eula.html?hl=pt-BR

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Caso 43- masculino, 45 anos, lesão renal, distúrbio metabólico.

Motivo da discussão:
1-      Qual o melhor esquema ARV para o caso do paciente que apresenta sinais de comprometimento renal, provavelmente relacionado ao TDF e que tem:
a.      História de toxicidade mitocondrial relacionada à ARV.
b.      Distúrbio metabólico e lipodistrofia.
c.       Inúmeras mutações de resistência arquivadas.

Gênero masculino, 45 anos, anti HIV + em 1995.
Início TARV em 1998
24/04/98 AZT +3TC + IDV -troca por efeitos adversos

22/05/99 AZT + 3TC+ NVP -Troca por falha virológica. CD4 sempre acima de 500/ mm³.

22/05/00 d4T + 3TC + NFV
Permaneceu com CV detectável, baixa. Cd4 variando de 550 a 950/mm³.

21/03/02 Realizou genotipagem- nesta ocasião estava com CV 18600 (4,25log)
Vírus do SUBTIPO B
Mutações
TR = M41L, D67N, K101E, V106I, V118I, M184V, G190A, L210F, T215Y
IP - L10I, D30N, R41K, D60E, L63P, N88D, I93L


25/05/03 ddI + d4T + LPV/R

Evoluiu com lipodistrofia, dislipidemia, adinamia. Realizada genotipagem por b-DNA com CV indetectável (<400). Tentativa de melhorar o esquema ARV
Mutações no gen da TR- M41L, L214 F, T215 Y
Mutações no gen dos IPs - L10I- M36I/M, R41K/E, I 50 L, Q58K/Q, D60E, L63T, L89M, I 93L
Na ocasião não foi possível um esquema menos tóxico e pela interpretação das duas genotipagens foi decidido por acrescentar EFV ao esquema que vinha fazendo.

07/03/05 ddI + d4T + LPV/R + EFV.
Lipodistrofia  mais acentuada, hipertrigliceridemia controlada com fibrato, adimania. Rediscutido o caso em 2009 e decido retirar o DDI e o d4T e iniciar ABC + TDF sem 3TC porque tinha M184V arquivada e se fosse recolocado o 3TC, o desempenho do ABC seria mais comprometido.
14/01/09 ABC + TDF + LPV/r + EFV
Supressão virológica sustentada abaixo de 50 cópias/ml, CD4 > 1000
07/06/2011 Assintomático.
G 96  U 33  Creat 1.32  ác úrico 3,3

Cockroft & Gault 83,1 ml/min/1,73
CKD-EPI 65 ml/min/1,73m
MDRD- 59 ml/min/1,73m

COL 222  HDL 45  LDL 126 Tg 254
Creat urina ao acaso 112,7 mg/l  Microalbumina 61,79 mg/dl  Alb/Creat 54,8
CD4 2308  - 50,1%  CD8  1373 - 29,8%  CD4/CD8 1,7
RT-PCR HIV <47
EAS- D 1022  pH 5  Ptn traços G +++

Inciado inibidor da EACA
15/07/2011
HbAlc 5,9  G estimada 123   G 87
U 26  Creat 1,26   ác úrico 2,9 
MDRD 66 ml/min/1,73m2
CKD EPI 68 ml/min;1,73m2

Col 253  HDL 60  LDL 168   Tg 126 

Creat amostra única de urina 110,8  Microalbumina 81,57
Alb/Creat 73,6 mg

4 comentários:

  1. A avaliação renal deste paciente mostra uréia e creatinina séricas normais, filtração glomerular abaixo do esperado, mas não temos os valores anteriores para saber se está piorando e com que velocidade. No entanto há nos exames proteinúria 1+ e glicosúria 3+ com glicemia normal, o que sugere dano renal em túbulo proximal, associado mais frequentemente ao TDF.
    Não há urgência de troca do TDF, mas eu tenderia a retirar esta droga se as alterações indicativas de dano renal tubular persistissem em 3 meses.
    Análise de genotipagem pelos algoritmos Brasileiro e Stanford mostram: ITRNN variação de interpretação para EFV e ETV de Resistência Intermediária a Resistência Completa, com melhor perfil para ETV; ITRNs com ampla resistência, com melhor perfil para TDF (“menos pior” e que possivelmente será retirado) e DDI, e com variação de interpretação para ABV, AZT e D4T de Resistência Intermediária a Resistência Completa; IPs sensíveis DRV, LPV, FPV e IDV.
    Além de evitar progressão do dano renal, devemos fazer o possível para manter controlada dislipidemia e não adicionar mais fatores de progressão à lipodistrofia, tudo isso mantendo boa resposta virológica alcançada desde 2003. A saída do TDF (droga pelo menos parcialmente ativa) leva a perda da potência do esquema ARV. Devemos adicionar pelo menos uma nova droga ativa. Se mantivermos ITRNN, devemos usar o “melhor” ARV da classe, já bem comprometida (escore para ETV=3,5 sendo 2,5 a 3,5 = resposta intermediária e 4 ou mais = resposta mínima).
    Esquema proposto mais adequado ao Consenso Brasileiro: IP + ETV + RAL.
    Outros possíveis esquemas, após avaliação por teste de tropismo:
    IP + ETV + Maraviroc ou IP + RAL + Maraviroc
    Mauro Treistman

    ResponderExcluir
  2. Lipodistrofia pelo tratamento anterior com d4t/ddi.
    Hipertrigliceridemia em uso de Efavirenz e controlada com medicação.
    CV indetectável e CD4 >1000cels.
    Piora progressiva da proteinúria e do clearance.
    Glicosúria sem glicemia alterada.Ttemos o resultado do fósforo sérico? A adinamia descrita em 2005 desapareceu? Temos que excluir S.de Fanconi.
    Se fósforo normal, a glicosúria seria então decorrente da lesão renal?
    O colesterol fração LDL começa a se elevar em relação ao anterior.

    Proposta: suspender o TDF e o Abacavir

    Substitutir o efavirenz por etravirina já que pelo algorítmo da stanford, há baixa resistencia, podendo ainda ter efeito residual, o que não se espera do efavirenz.
    Manter um IP - se possível o melhor seria substitutir o lopinavir por outro com menos comprometimento metabólico. Como já teve falha com nelfinavir, o uso do fosamprenavir seria com 200mg de ritonavir e portanto sem vantagem nesse ponto de vista. O darunavir, se liberado, seria mais vantajoso pelo conhecimento atual ( temos sempre que lembrar que os efeitos colaterais precisam de tempo para serem percebidos)

    Associar mais uma droga ativa, que no caso poderia ser o raltegravir, ou T20, ou maraviroque caso teste do tropismo permitir .
    Delia

    ResponderExcluir
  3. Respondendo às perguntas:
    Ca 9,9 P 2,9
    Desde que parou o ddI e o d4T desapareceu a adinamia.
    LPV/r- vocês não consideraram? Está muito bem ainda.
    Abacavir- intermediário. RAL funciona melhor com NUCs, de preferência 2 NUCS, mas o que lhe sobra é ddI e este é o problema.
    Vou mandar um trabalho para todos por e-mail, que fala que a ação do RAL é melhor com 2 NUCs, mas acho que este trabalho tem um viés, porque muitos dos esquemas não tinham IP/r.
    Anexei também a interpretação das genotipagens pelo MS e Stanford.

    ResponderExcluir
  4. Olá

    gostaria de participar da discussão, já que vi este paciente.

    Marquei pontos importantes do ponto de vista nefrológico e que ajudam a guiar o diagnóstico


    - 45 anos, anti HIV + em 1995.
    A idade é um dos principais fatores de risco para doença renal na população com HIV e na população geral também, já que aumenta a prevalência de fatores de risco clássicos para doença renal crônica (como diabete) e também porque perdemos capacidade de filtração glomerular a medida que envelhecemos
    Geralmente este risco aumenta significativamente após os 50 anos, mas alguns estudos mostram aumento do risco já a partir dos 40

    24/04/98 AZT +3TC + IDV
    Até 25% dos pacientes em uso de IDV apresenta algum tipo de lesão renal. Mais importante, atualmente, é que o uso prévio de IDV aumenta o risco de DRC, possivelmente por lesão intersticial crônica

    21/03/02 CV 18600 (4,25log)
    Falha virológica aumenta o risco para doença renal - classicamente a CV acima de 4000 cópias é fator de risco para doença renal crônica (DRC) e acima de 10000 cópias para injúria renal aguda


    Dislipidemia
    A dislipidemia por si só também aumenta o risco para DRC e o tratamento da mesma alentece a velocidade de progressão renal. Dislipidemia em paciente com alteração da função renal não pode passar desapercebida ou não tratada.

    LPV/R
    Hipertrigliceridemia controlada com fibrato
    TDF
    No entanto, só para acrescentar emoção, existe uma lesão renal glomerular direta pelo uso de fibratos - sem relação com CK
    TDF + LPV/r
    TDF entra em cena
    Creat 1.32
    Creatinina borderline - normal? anormal? Melhor sempre usar a creatinina para calcular a função renal por uma das fórmulas

    Cockroft & Gault 83,1 ml/min/1,73
    CKD-EPI 65 ml/min/1,73m
    MDRD- 59 ml/min/1,73m
    A discrepância entre as equações acontece porque o paciente é jovem e pesado, o que superestima o clearence de creatinina pela CG

    A CKD-EPI usa as mesma variáveis que a MDRD porém por usar um fator de correção para a creatinina de base não subestima a TFG nos pacientes com TFG de aproximadamente 60 ml - caso do nosso paciente

    Acreditem na CKD-EPI

    Alb/Creat 54,8
    Microalbuminúria em amostra avulsa de urina - glomerular ou tubular? O paciente é diabético?
    CD4 2308 - 50,1% CD8 1373 - 29,8% CD4/CD8 1,7
    RT-PCR HIV <47
    EAS- D 1022 pH 5 Ptn traços G +++
    Proteinúria no EAS e glicosúria - novamente: o paciente é diabético?

    HbAlc 5,9 G estimada 123 G 87
    O paciente não é diabético, glicose sérica normal. Glicosuria normoglicêmica

    ác úrico 2,9
    CKD EPI 68 ml/min;1,73m2
    Apesar de a TFG ser mais baixa do que o desejável em um homem desta idade, está estável. O US é normal

    Alb/Creat 73,6 mg
    e não é diabético, glicose sérica normal. Glicosuria normoglicêmica
    A albuminuria está aumentando - lesão ativa.
    Imp: DRC associada ao HIV+uso prévio de IDV, com lesão tubular ativa (proteinúria baixa, glicosúria normoglicêmica e ácido úrico no limite inferior da normalidade)
    Hipótese: lesão tubular pelo TDF - retirar droga suspeita

    Espero ter contribuído alguma coisa
    bjs
    Pat

    ResponderExcluir